Em um de seus últimos shows em Ribeirão Preto, na Feira do Livro de 2012, o cantor Jair Rodrigues — que faleceu nesta quinta-feira (8/5) em Cotia/SP — deu um banho de simpatia e humildade. Chegou cedo ao camarim, vestindo um sobretudo preto, com terno vermelho por baixo. Pediu que eu escrevesse para ele os nomes das pessoas a quem ele deveria agradecer por cantar naquele dia na cidade. Pediu também uma camiseta da Feira Nacional do Livro de Ribeirão Preto, para vestir ao final do show.
Naquele ano eu estava trabalhando na assessoria da Feira do Livro, um evento pelo qual tenho uma grande paixão. 2012 também foi o último ano de shows da Feira na esplanada do Theatro Pedro II, já que no ano passado os shows migraram para o parque Maurílio Biagi. No camarim de Jair, frutas, pães e sucos — nem uma gota de álcool, nada de muito grande, nada de ostenção. Perguntei se precisava de algo e ele respondeu: "está tudo ótimo, fique tranquila, menina!", pulando e passando a mão na minha cabeça.
O produtor de Jair, uma figura também muito agradável, examinou o palco de ponta a ponta, foi até a frente, olhou os pilares e distâncias e voltou para passar as coordenadas para Jair. Eu só entendi o motivo dessa "vistoria" depois, mas tudo corria bem.
Jair recebeu a imprensa, concedeu entrevistas sempre muito paciente e sorridente. Subiu ao palco pontualmente e cantou os clássicos de sua carreira. Nós registramos 7 deles aqui.
Disparada, Arrastão, Romaria, Deixa isso pra lá… todas essas canções que marcaram gerações e foram eternizadas com a imagem de Jair Rodrigues nos festivais. Era muita energia e disposição para um senhor de mais de 70 anos. Uma criança. O tempo todo brincando com as pessoas da plateia e fazendo piadas.
A surpresa maior viria no final do show quando Jair pediu que abrissem um corredor na plateia, daí entendi o motivo da tal vistoria. De repente montou-se uma operação de última hora com os monitores da Feira, Jair desceu e já se embrenhou no meio da galera. Todos amavam Jair, aquilo se comprovou naquele momento. Nada de errado aconteceu.
Ele passeou no meio daquelas milhares de pessoas entoando “Majestade, o sabiá”, sem esquecer a melodia e comandando a banda lá de chão. Tirou fotos, cumprimentou as pessoas, subiu de volta no palco e lembrou que sua terra natal é logo aqui perto, Igarapava. Um caipira assumido!
Seu último show em Ribeirão foi no dia 18 de julho de 2013, no Theatro Pedro II, mas neste eu não puder ir. Em compensação, vou guardar a melhor imagem dele: desfilando no meio da multidão na "despedida" da esplanada do Theatro, durante a Feira do Livro. Uma bela recordação. Obrigada, Jairzão!
Texto: Analídia Ferri
Edição, foto e vídeos: Paulo Gallo