CLIQUE E ACESSE A NOSSA
AGENDA CULTURAL
Por Analídia Ferri
Fotos: Bia Indiano
A estudante de jornalismo Bia Indiano, 26, moradora de Franca, quis mostrar em seu trabalho de conclusão de curso um novo olhar sobre o interior paulista e acabou faturando o primeiro lugar no Expocom Sudeste, fase regional do concurso de produtos universitários, promovido pelo maior congresso de Comunicação do Brasil, o Intercom – e está classificada para concorrer ao título nacional, que será disputado em setembro, na Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP São Paulo.
Bia se propôs a percorrer 60 cidades do interior de São Paulo e sul de Minas, de moto, para fazer uma releitura e redescoberta do interior, propondo um questionamento à imprensa tradicional, com o objetivo de mostrar a beleza natural e arquitetônica e a riqueza histórica de cidades pequenas.
Nopuranga/SP
Intitulado “Desenlatando o Regional”, o ensaio fotográfico começou com a ideia central do projeto de conclusão de curso que pretendia analisar como é feito o jornalismo regional. “Percebemos que muitas vezes ele é enlatado, ou seja, o regional propriamente dito é suplantado por matérias (e temas) nacionais, como se ele copiasse o formato nacional e assim não deixasse espaço para as possibilidades das temáticas da região”, explica a estudante.
Em suas viagens, Bia quis propor novas pautas e novos olhares para que as pessoas do interior se reconhecessem nas matérias que pudessem surgir a partir de seus registros fotográficos. Foram escolhidas cidades com menos de 100 mil habitantes e próximas à Franca, Ribeirão Preto e Serra da Canastra.
São Roque de Minas/MG
Sacramento/MG
“Preferi fotos em preto e branco, porque como o fotógrafo brasileiro Sebastião Salgado afirma, as cores podem distrair e tirar seu foco do que deveria ser o ponto de interesse da imagem, além disso as fotos preto e branco remetem muito ao interior, as fotos guardadas em um caixa embaixo da cama na casa da avó. Elas são também da cor das imagens dos jornais do interior, que ainda imprimem apenas preto e branco, aqueles jornais mensais das pequenas cidadezinhas. Queríamos também tirar os personagens da imagem para que o espectador se inserisse no quadro, assim em todas as fotos há a ausência de pessoas. E o resultado foi o melhor possível, foram mais de 2.500 km percorridos de moto, mais de 60 cidades visitadas, mais de 3 mil imagens em um período de quase um ano”, relata.
E viajando por aí, a estudante conseguiu encontrar raridades em várias cidadezinhas. “Era engraçado, pois como não viajamos em temporadas, pegávamos as cidades em sua época mais pacata. Tínhamos a oportunidade de conversar com os moradores, e muitas vezes os moradores que nos indicavam locais interessantes para as fotos, explicávamos a ideia do projeto e eles nos revelavam as belezas do local, que ninguém conhecia, que não noticiavam”, conta.
De acordo com Bia Indiano, o auge do projeto foi a exposição na Feira de Profissões da Unifran (Fepro) onde foi montada uma instalação que levava os visitantes para o interior.
“As fotos foram dispostas em um varal, junto com roupas. A música ambiente era a música caipira, tinham alimentos e bebidas comuns na roça, no interior. E fizemos um jogo com os visitantes para que tentassem reconhecer as cidades, e foi bem interessante como os próprios moradores, muitas vezes não estão familiarizados com a beleza da sua cidade, da sua região. Provando que realmente não há divulgação”, detalha.
Rifaina/SP
Capitólio/MG
Bia estava sem muitas esperanças com relação a inscrever o trabalho na Expocom, embora a proposta fosse interessante, o material criado sem uso de ferramentas profissionais, era sua maior insegurança. Mas a sorte provou que o improviso tem muito valor e a espontaneidade é uma ótima forma de expressão.
“Agora com o prêmio em mãos podemos fazer muita coisa, ajudar na divulgação do Curso de Jornalismo da Unifran, ajudar no incentivo a outros alunos à participarem de congressos e eventos, mostrar como é necessária uma formação completa, afinal tivemos pouco contato com a fotografia durante o curso, mas mesmo assim foi essencial para a construção dessa proposta. Mostrar a necessidade da faculdade de transformar o ambiente universitário, garantindo melhores ferramentas, espaço etc.”, finaliza.
Estrada vicinal entre Franca e Ribeirão Preto
Bia por ela mesma
Tenho 26 anos, nasci e fui criada em Franca, minha família é bem ligada às artes, minha mãe é professora de artes no Curso de Artes da Unifran, meu pai é arquiteto e artista plástico. Gosto muito de fotografia por influência deles e adoro viajar. Adoro o interior, acordar com o barulho de água, dormir na grama, gosto do contato com a natureza. Então, esse projeto juntou tudo o que eu mais gosto, além da paixão pela área de comunicação. Meu namorado e eu temos um acordo de todo mês viajar para algum lugar, conhecer algum lugar novo, mesmo que seja próximo ou mesmo dentro da cidade. Esse é um acordo que sempre tentamos cumprir, e deu certo, já colecionamos cidades e histórias pela região de São Paulo e Minas Gerais e temos a intenção de estender essa ideia para outros estados e países.
Além desse trabalho a Unifran teve mais quatro trabalhos classificados entre os cinco melhores de suas respectivas modalidades no Expocom Sudeste. O “AlternativaMente”, uma produção de estudantes do 2º ano de Jornalismo, na categoria blog, que esteve representado pelas alunas Renata Elias Juliotti e Patrícia Garcia; o ensaio fotográfico jornalístico “Drogas: realidade aumentada”, de Danielle Andrade e Isadora Costa; a reportagem impressa “Morte no jornalismo local”, de Gabriela Tumbiolo e Samanta Martins; e a produção multimídia “A imprensa regional e a cobertura de esportes amadores na Alta Mogiana”, de Daniel Senna e Jean Lucas Oliveira.
Todas as produções foram orientadas pelos professores Eduardo Soares, Igor Savenhago, José Augusto Nascimento Reis e Maurício Mello, sob supervisão do coordenador do curso de Jornalismo, Fábio Pacheco.
Delfinópolis/MG (esquerda) e Batatais/SP (direita)
Represa de Furnas/MG
Paraguaçu/MG
Franca/SP
Batatais/SP