Como assistir “Marte Um” em Ribeirão Preto

Por Vinicius Felix // Colaboração para o Varal Diverso
Fotos: Divulgação / Embaúba Filmes

Marte Um, filme nacional dirigido por Gabriel Martins, é o filme brasileiro do ano. Se não confia na nossa palavra, pode confiar na palavra da Academia Brasileira de Cinema e Artes Audiovisuais, que escolheu o filme para ser o representante brasileiro no Oscar em 2023.

Essa é só a primeira etapa da premiação, mas é um passo gigantesco. Em dezembro, saberemos se o filme vai figurar naquela lista final, aquela que participa da cerimônia e tudo mais. É a grande chance de trazer o troféu para o Brasil em muito tempo, ainda que a gente saiba que para vencer a premiação é preciso mais que um bom filme.

Até aqui, “Marte Um” já acumula alguns prêmios: só no festival de Gramado levou Melhor Filme do Júri Popular, Melhor Roteiro, Melhor Trilha Musical e Prêmio Especial do Júri.

Premiado ou não, vale muito ir ver o sensível filme estrelado por Rejane Faria (Tercia), Camilla Damião (Eunice), Carlos Francisco (Wellington) e o jovem Cícero Lucas (Deivinho), que conta a história de uma família de classe média-baixa a partir da eleição de 2018. A partir da fase sombria que o país começa a atravessar, a família precisa lidar com as perdas e sua sobrevivência, entre contas a serem pagas e sonhos a serem realizados.

Apesar dessa fama, em Ribeirão Preto, por enquanto, apenas uma única sala exibe o longa. Esqueça UCI, Cinemark ou Cinépolis. Quem exibe “Marte Um” é a Casa Belas Artes de Cinema, um pequeno espaço localizado em uma casa na tradicional Vila Tibério.

Com espaço para 15 pessoas por sessão, com ingresso por R$ 30 (inteira), a casa é tocada desde 2019 por João Mello Rodrigues — figura icônica da cidade na resistência do cinema de rua e dos filmes alternativos. No final dos anos 1990 e começo dos anos 2000, ele já tocava o Bela Artes na rua Lafaiete, onde segurava a onda contra o avanço das salas multiplex nos shoppings e das igrejas que tomavam o espaço dos antigos cinemas de rua.

A sala atual de cinema pode não ter os luxos de uma das salas padrões da cidade, mas no espaço de uma casa simples, João oferece cadeiras confortáveis, um bom ar-condicionado, boa imagem e bom som.

Dá para ouvir o barulho da rua, dos cachorros que passeiam pelo bairro e a gente até vê o próprio João arrumando os equipamentos de exibição. O que talvez seja incômodo e diferente demais para alguns pela simplicidade, do nosso ponto de vista é a experiência possível de uma cinema de bairro — imagine um pequeno cinema com filmes interessantes por toda a cidade? Seria transformador. É um erro a gente imaginar que o único cinema possível é o dos shoppings e seu requinte VIP.

Um cinema que a gente conheça o dono pelo nome, troque ideia com ele e até dê uma ligada para ele antes de ir para checar o horário é dez. Uma experiência para se ter mesmo quando “Marte Um” ganhar os shoppings. Fortalecer os bairros e os pequenos empreendimentos é ter uma cidade melhor.

Vinicius Felix é jornalista, criador do projeto Telefonemas Podcast, programa em que troca ideias e tem conversas incríveis com pessoas interessantes, artistas, ativistas, enfim, gente que inspira e gera impacto real. Caso você não conheça, siga: canal no Youtube, Spotify e Apoia.se.