Entenda a crise enfrentada pela Orquestra Sinfônica de Ribeirão Preto

“Músicos estão trabalhando como diaristas e motoboys”, afirma integrante da Orquestra, que está com salários atrasados há dois meses sem grandes perspectivas. Direção tenta se livrar de dívida deixada por antiga gestão
Tempo de leitura:4 minutos

Por Francine Micheli
Foto: Divulgação

Aos 82 anos de atividades ininterruptas, uma das orquestras sinfônicas mais antigas do país está passando por uma das piores crises da sua história. Músicos da Orquestra Sinfônica de Ribeirão Preto (OSRP) divulgaram, recentemente, uma carta aberta ao público na qual expuseram os atraso nos salários e falta de verba até para manutenção dos instrumentos. A entidade cancelou concertos já agendados e mostrou, mais uma vez, a fragilidade da cultura em tempos de crise econômica.

O pontapé público da crise foi dado no último dia 28 de agosto, quando os músicos não apareceram para uma apresentação que seria realizada durante uma palestra do escritor Augusto Cury. No mesmo dia, a carta aberta foi publicada nas redes sociais.

Mas, você sabe como e por que a Orquestra e outras instituições culturais da cidade são tão afetadas diante de dificuldades econômicas que atingem mercados de todo o mundo? É simples: grandes empresas como usinas de cana-de-açúcar (principais financiadoras da Orquestra) estão passando por grandes dificuldades financeiras e, obviamente, com menos receita, pagam menos impostos. Estes mesmos impostos são destinados a projetos culturais através de Leis de Incentivo e, quando são diminuídos, colocam em risco a continuidade de iniciativas que dependem deles para sobreviver.

Revolta

Um músico da orquestra que pede para não ser identificado, diz que o cenário que ele enxerga atualmente não é nada próspero. “Estamos sem opção. Há muitos músicos, inclusive estrangeiros, que hoje estão trabalhando como diaristas e motoboys para pagar suas contas aqui na cidade”, diz.

A Sinfônica de Ribeirão é a única orquestra privada do Brasil e considerada uma das melhores. Segundo o músico, a direção da entidade já veio demonstrando dificuldades desde o início do ano, quando solicitou aos músicos paciência por conta das dívidas. “Colaboramos até agora, mas a situação está insustentável. Esse papo de que a culpa é da crise é um argumento muito amplo, a má gestão também ajudou a chegar a esse ponto”..

Críticas sobre o valor dos salários também são contundentes. Na OSRP, um músico ganha, em média, R$ 2.800 — praticamente metade dos R$ 5.500 oferecidos por outras orquestras no Brasil. Na Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo (Osesp), por exemplo, um músico chega a ganhar R$ 11.000. 

No vermelho

Para o presidente da entidade, Cyrillo Gomes, muito da atual situação vivida pela orquestra tem a ver com gestões anteriores e que, por conta de irregularidades, há ainda uma dívida de R$ 500 mil ao Estado. “Faz sete anos que a Orquestra não pode receber incentivos do ICMS, através da esfera estadual, além da dívida contraída por irregularidades na prestação de contas”.

Sobre o atraso da verba municipal, o presidente procura não criticar as prioridades da Prefeitura. “A Cultura sempre será deixada no fim da fila porque há outras prioridades como a saúde, a educação, o transporte. Entendemos isso, não há outro jeito”.

Cyrillo diz ainda que as ações atuais têm como objetivo encontrar novos parceiros da iniciativa privada e conquistar mais associados.

Para tornar-se sócio da Orquestra Sinfônica de Ribeirão Preto, fazer doações ou saber sobre outros meios de apoio, acesse o site oficial da entidade.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Saiba como seus dados em comentários são processados.