Impressões: Quando o Arena voltou pra gente

O Teatro de Arena reviveu, no último sábado, seu talento para receber de braços abertos um público apaixonado por ele. O Arena Blues Sessions foi a prova de que Ribeirão Preto quer e precisa do seu teatro mais querido de volta à ativa
Tempo de leitura:4 minutos

Por Francine Micheli
Fotos: Analídia Ferri

A última noite de sábado foi emblemática, tanto pra quem gosta de blues quanto pra quem lembra com carinho a sua própria história em Ribeirão Preto. O Arena Blues Sessions, que aconteceu no dia 8 de novembro, trazia de volta uma plateia viva ao Teatro de Arena que, ao som de bandas locais, parecia reviver um passado glorioso. O Arena, lotado, assistiu a talentos vindos daqui mesmo, numa vibração que enfrentou até uma previsão do tempo nada amistosa.

Cheguei e a noite já tinha começado, com uma teimosia que desafiou as nuvens pesadas. Achei que não ia dar gente, que ribeirão-pretano nunca sai de casa em tempos de chuva. Quando entrei, vi gente em todos os cantos do Arena, dançando, conversando, bebendo e comendo. Parecia uma grande festa de aniversário com tantos amigos meus.

A primeira a subir ao palco foi a The Black River Blues Band. Numa homenagem ao filme The Blues Brothers (Os irmãos cara-de-pau), botou todo mundo pra dançar. O vocalista Enio Soares liderou a big band como um maestro que, em vez de batuta, usou a voz poderosa pra reger a banda e colocar uma plateia sedenta aos seus pés.


(Foto: Roberto Galhardo / CSS)

No intervalo, a Arena Jazz Band deu um espetáculo à parte na arquibancada. Clássicos de New Orleans foram executados pra quem já conhecia jazz e pra quem estava lá só pela curtição. E todos, todos mesmo, aproveitaram com o mesmo sorriso no rosto.

Naquela hora eu lembrei dos velhos shows do Arena, da minha adolescência, da subida da Capitão Salomão, de como a vida era boa quando o nosso teatro mais querido estava a todo vapor. Ver aquilo tudo de novo, com a mesma consistência, me fez respirar fundo e sentir 5 quilos e meio de orgulho da cultura da minha cidade, tão maltratada por anos.

Em seguida, Fred Sunwalk & Dog Brothers subiram ao palco e trouxeram junto a adolescência de muitos ali. Eu e tantos outros sofremos de saudade melancólica por uns minutos, mas logo veio a vontade de aproveitar "nossa época", que era aquela hora, aquele momento. Era 2014. Dia 8 de novembro, onze e tanto da noite.

Tinha chope artesanal, hambúrguer, pizza e churros. Algo novo pra um local que, por tantos anos, oferecia exclusivamente o que o conservador bar da casa tinha à disposição. Venderam muito. Acabou o lanche. Todo mundo estava satisfeito.

Mas a alegria maior da noite ficou mesmo com um camarada da arquibancada, que cedeu lugar ao Fred Sunwalk e sua guitarra. Ele ainda fazia aquela coisa de andar tocando pelo público! E estava em plena forma, com a comoção de quem aprende, pela primeira vez, a fazer certinho o solo de "Sweet Child O' Mine".

Teve "Mustang Sally", "Superstition", "Five Long Years" e, claro, "Blues Everyday", que ganhou um refrão gordo com todas, absolutamente todas as vozes do Arena. Essa nunca falha, o Fred sabe disso.

Aliás, temos aqui que falar sobre ele e os Dog Brothers, que pro nosso alívio, voltaram a tocar juntos. E que bom que teremos blues everyday de novo.

O espetáculo acabou. O pessoal saiu. Ninguém teve tempo pra discutir política, futebol, má administração pública. Era só festa. E aquela noite foi um alento pra tantos corações que sentiam falta do Arena. São Pedro, acho, foi o grande patrocinador do evento.

As noites de blues voltaram à Ribeirão e o Arena voltou a representar o que ele nunca poderia ter deixado de ser.

Que venham os próximos festivais. Que venham mais gerações apaixonadas por aquele lugar incrível.

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