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Por Francine Michelli
Fotos: Renata Prado / Divulgação
Natural de Jardinópolis, aos 84 anos, o escritor Rubens Francisco Lucchetti já havia se acostumado com o anonimato, mesmo depois de ter produzido mais de 1.500 livros (isso mesmo, 1.500!). Mas, em outubro de 2014, o jornal The New York Times quis desvendar os mistérios que rondavam a carreira deste homem, considerado o mestre do terror brasileiro, responsável por inúmeros roteiros dos filmes de Zé do Caixão.
Lucchetti foi esquecido pelas editoras e público por mais de 20 anos, mas o reconhecimento tardio bateu à sua porta quando ganhou a atenção da mídia internacional.
A repercussão foi grande e o sentimento de “não deixar a coisa morrer” tomou conta de um grupo de cineastas de Ribeirão Preto que, em abril deste ano, já havia começado a fazer contatos com a família de Lucchetti para iniciar um projeto de curtas-metragens baseados em seus contos. A ideia permaneceu na gaveta até que o escritor ganhou a atenção do público, das editoras e da mídia após fazer uma página no Facebook.
Equipe filma o primeiro episódio da websérie "Histórias do Corvo", com o ator Magno Bucci
Nascem as "Histórias do Corvo"
Foi no fim do ano que as coisas caminharam. O grupo lançou no dia 21 de dezembro o primeiro episódio de uma websérie que promete tirar os textos do escritor do papel. “Os sinos de Natal” é interpretado pelo ator e diretor de teatro Magno Bucci e conta a história de um ferreiro que desenterra um terrível segredo que ronda a cidade por 10 anos. Este e os próximos episódios serão veiculados exclusivamente no YouTube.
O filho de Lucchetti, Marco Aurélio, já estava preparando os roteiros de curtas-metragens para a internet desde 2008 e procurava uma equipe para produzir. Então, uniram a fome com a vontade de comer.
Produzida pela L4 Filmes e Mandala Filmes/Coletivo Fuligem, a primeira temporada da série “Histórias do Corvo” contará com cinco episódios, além do piloto. O primeiro episódio também foi inscrito no Festival de Horror de Aurora, no México, que acontece em fevereiro.
Assista ao episódio piloto do projeto, “Os sinos de Natal”:
Genial e turrão
Milena Maganin, produtotora da websérie, lembra que, ao primeiro contato com Lucchetti, em abril de 2014, uma certa empatia arrebatou o escritor. “Ele é fechadão com estranhos, com o pessoal da cidade, mas na casa dele ele foi super simpático, curioso. Gosta de contar as histórias”.
O escritor, que até então vivia de aposentadoria, começou a desfrutar do sucesso que nunca deveria tê-lo deixado, sem sequer sair de sua casa que parece um labirinto de coisas fantásticas, logo aqui, em Jardinópolis. Uma editora também o procurou e criou um selo exclusivo para lançar 15 de seus livros. Em apenas uma semana, o primeiro deles, As máscaras do pavor, vendeu mais de 4 mil exemplares, apenas via internet.
"Editores são sujeitos extremamente arrogantes, que se acham deuses. Acho-os uns ignorantes" (R. F. Lucchetti)
Quando perguntamos a Lucchetti como foi viver 20 anos sem publicar um livro sequer, ele é enfático quanto ao mercado editorial. “Continuei escrevendo, porque nunca fui de ligar muito para editores. A maior parte deles, no Brasil, não passa de sujadores de papel. Editores são sujeitos extremamente arrogantes, que se acham deuses. Acho-os uns ignorantes, porque não investem nos talentos nacionais e preferem continuar lançando o lixo enfeitado estrangeiro. Livros que já vêm com publicidade pronta de fora. E o brasileiro continua consumindo isso, influenciado pela mídia”, diz.
Ganhador de um Kikito — prêmio máximo nacional, concedido pelo Festival de Cinema de Gramado —, Lucchetti parece retomar o caminho que lhe foi interrompido há 20 anos. Como bem se expressou o título da matéria do The New York Times, a “fábrica humana de pulp-fiction tornou-se um herói cult”.
E não há nada de exagero em afirmar uma coisa dessas.
Equipe completa de produtores. Trabalho está inscrito no Festival de Horror de Aurora, no México
Financiamento coletivo
Por ser uma produção independente, os realizadores buscam viabilizar o projeto completo por meio do financiamento coletivo, no Catarse. Para ajudar a financiar os futuros episódios, acesse o site do Catarse e faça a sua doação. Todos os doadores receberão recompensas.