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Por Francine Micheli
Fotos: Arquivo pessoal
Rafaella Rímoli, ou Ram Rapose, como dita seu principal alterego artístico, é uma dessas surpresas boas que a gente só encontra quando estamos preparados. Nós nos conhecemos em um sarau e ela, pequenininha, tímida e quieta, quase colocou a casa abaixo quando decidiu cantar “Surrender”, uma música nublada, que é bem conhecida pela interpretação da Björk. A plateia de umas 15 pessoas se tornou uma imensidão de contemplação.
Mas não foi só a música que trouxa a Rafa aqui para o Varal Diverso. Com 26 anos, ela também expressa suas angústias como escritora e ilustradora. Com sensibilidade, vai traçando recortes do seu mundo particular e tem encantado fãs pelas redes sociais à fora com seus traços coloridos e instigantes. E é ela quem abre a nossa série de entrevistas com os talentos femininos da ilustração que brotaram de Ribeirão Preto.
A Rafa é inspiração pura!
Rafaella, você é multiartista, desenha, canta etc. Como surgiu a paixão pelo desenho e como ela completa seus outros talentos?
Eu não tenho ideia de como surgiu. Imaginamos que as coisas tenham uma origem, inclusive as paixões. Já tentei investigar a origem de algumas coisas. Poderia te dizer que desenho desde minha primeira lembrança em vida. Também poderia dizer que amava a aula de artes da escola e que tinha o hábito de desenhar meninas e bonecas quando criança. Desenhava-as sempre de frente e inventava cabelos, roupas e cores, fiz uma coleção delas. Depois, expandi meus desenhos e percebi que desenhava para me aproximar das coisas. Passava muito tempo olhando um vaso de plantas, pegava lápis, borracha e papel e o tempo se alongava. Talvez essa seja a minha motivação maior, tentar apreender as coisas e aprender o tempo. Mas, hoje, venho resolvendo que não preciso as origens, os inícios e os fins.
Como você define o seu estilo?
Eu não defino o meu estilo.
O que te inspira?
Tudo o que eu consigo captar por meio dos sentidos. Todas as minhas interações com tudo o que existe e com o que eu invento. É como se eu fosse um uma espécie de recipiente, como um copo ou uma tigela. Conforme vou vivendo o recipiente vai enchendo. Chega um momento que transborda. Depois volta a encher, e de novo, e de novo.
Pontualmente, posso enfatizar alguns filmes que, impreterivelmente, me despertam mais vontade de desenhar: Poesia, de Lee Chang-Dong; O fabuloso destino de Amelie Poulain, de Jean-Pierre Jeunet; Medianeras, de Gustavo Taretto; Hanami – Cerejeiras em flor, de Doris Dörrie; La vida es silbar, de Fernando Pérez.
Alguns nomes de várias áreas da arte: Vincent van Gogh, Manoel de Barros, Tatsumi Hijikata, Gustav Klimt, Radhashyam Raut, Björk, Mariane Marques, Liu Oliveira, J. Borges, Joana Lira, as músicas, as poesias e os desenhos do meu companheiro Vitor Castilho, os desenhos que meu irmão, Giovanni, faz com água e cabelos da minha irmã, Brunna, na parede do banheiro. Os desenhos dos meus priminhos, Gabriel, Giovana, Victória, Matheus e Lorenzo.
O que desenhar representa pra você hoje?
Acho que é da natureza humana apresentar-se, reapresentar-se, presentar-se, representar-se e assim sucessivamente. Acho que esse é nosso mar, nosso movimento infinito. A cada momento significamos as coisas. Hoje, e exatamente hoje, desenhar significa cansaço. Amanhã talvez seja descanso, como já foi outro dia.
Você criou um nome artístico. Isso mostra algum outro lado seu?
Sim. Eu tenho muitos nomes. Rafaella Rímoli é o nome que meus pais escolheram para mim e que eu gosto muito. É o nome para o qual sempre volto. Ram Rapose é apenas um que decidi dividir nas redes sociais. Tenho outros nomes preferidos, pelos quais escolho me chamar mais, como Zvaga e Vicente. Outros passaram por mim que usei apenas uma vez. Sempre nascem outros.
Já surgiram trabalhos por conta das ilustrações que você posta nas redes sociais?
Sim!
Facebook, Instagram… são aliados pra você divulgar seu trabalho?
São. Mais do que isso — atualmente, são os aliados principais.
Como você se imagina nos próximos anos? Quer levar sua arte pra outros lugares?
Quero estar bem! Gostaria de ser levada pela minha arte para outros lugares. De uma forma isso já acontece, de outra forma acontecerá.
Foto: Matheus Urenha / Arquivo pessoal Rafaela Rímoli
Tem alguma história especial na sua vida ligada às suas ilustrações?
Bom, considero todas as histórias especiais. Minha relação com as artes plásticas é fosca, nebulosa, distraída e nova. Não sei me entender ilustradora ainda, apesar de ser. Por isso não posso dizer sobre nenhuma história em especial. É como se estivesse sentada em uma canoinha construída por crianças que nunca fizeram isso antes, no meio do oceano imenso a perder de vista. Sou formada em Letras, minha intimidade é com as imagens cujos tijolos são palavras e silêncios. Não tenho formação em artes plásticas, sou poeta curiosa que tenta investigar novas maneiras de fabricar imagens. Achei tinta e traços.
Quer compartilhar com a gente uma playlist que te inspira noa hora de desenhar?
Que difícil! Tenho algumas bandas, cantores e compositores que escuto mais quando desenho, são específicos. Gosto de muita coisa, mas para desenhar, bem… Lá vai a tentativa:
- I See Who You Are – Björk (e todas as outras)
- Judy and The Dream of Horses – Belle and Sebastian (e todas as outras)
- Beethoven (tudo)
- Everybody's Gotta Learn Sometime – Beck
- Misread – Kings of Convenince (e todas as outras)
- Ragged Wood – Fleet Foxes (e todas as outras)
- Mantras diversos, principalmente de Kundalini yoga
- Twice – Little Dragon
- Cucurrucucu Paloma – com Caetano Veloso
- Surrender – Olof Arnalds
Para conhecer mais sobre a Rafaela Rímoli, curta a página dela no Facebook e acompanhe o seu canal no Youtube.