“Patrícia”, primeiro longa da cidade, será reexibido no Sesc

Produzido sem nenhuma verba, filme sobre prostituta em busca do autoconhecimento agrada crítica e terá sessão especial no dia 24, em Ribeirão Preto
Tempo de leitura:6 minutos

Por Francine Micheli
Fotos: Joyce Cury/Divulgação

Depois de quase cinco meses da estreia oficial, o filme Patrícia, primeiro longa-metragem 100% produzido em Ribeirão Preto, começa a colher os frutos do que, a princípio, parecia apenas uma ideia doida nascida entre amigos. Uma sessão extra do documentário será realizada no Sesc Ribeirão Preto, no dia 24 de junho, às 19h. A exibição faz parte do festival Cena Nacional, que vai trazer filmes nacionais entre junho e julho. 

Sem nenhum orçamento e produzido apenas com boa vontade, Patrícia surgiu de um encontro inusitado. O diretor, Alexandre Carlomagno, conheceu a protagonista do filme nas ruas da avenida Nove de Julho e, não resistindo a uma boa personagem, se aproximou da garota de programa solitária, que lhe contou algumas histórias da sua vida. O roteiro já estava pronto bem na sua frente.

Com calma, com jeitinho

Com o convite aceito para ser o centro de um documentário, Patrícia começou a gravar com a equipe. Enéias Barros, o Netinho, comandava a câmera. Joyce Cury, a direção de fotografia; Adilson Fininho, a captação de áudio; e Milena Maganin, a produção. Durante 14 dias, Patrícia teve sua vida invadida e a confiança conquistada pela produção com o passar do tempo acabou ditando o ritmo da narrativa.

“Quando terminamos de gravar com ela, a primeira edição do filme tinha quatro horas e meia, só com ela falando. Patrícia tem muita coisa pra falar e pra ensinar”, diz o diretor Alexandre Carlomagno.

Já Milena Maganin, a produtora, conta que a aproximação com Patrícia a fez enxergar o universo da prostituição de uma outra maneira, sem preconceitos. Segundo ela, houve uma relação intimista entre produção e personagem tão forte que os laços ficaram estreitos demais. “Ela era uma pessoa real, passou a nos pedir ajuda pra outras coisas, a situação não era fácil”, conta.


O diretor Alexandre Carlomagno com a produtora Milena Maganin e Patrícia

Medo e surpresa

Milena conta que Patrícia, que é de Londrina mas fez a vida como prostituta de rua em Ribeirão, ficou assustada com a repercussão do filme. Quando o filme teve sua pré-estreia para a equipe interna, a protagonista se recusou a ir. Deixou um buraco na plateia que até hoje é difícil ser compreendido.

“Quando fizemos a estreia no CineClube Cauim, no dia 30 de janeiro, ela também não queria ir. Quem a motivou foi sua filha, de 20 anos, que disse que aquela coisa toda era uma grande oportunidade pra ela, algo muito bom”, conta Milena.

Logo quando as fotos do evento foram publicadas no Facebook oficial do filme, Patrícia compartilhou o álbum em seu mural e escreveu: “My god, Santa Clara! Estou perdendo o controle da minha vida! Estou apavorada!”.

Depois do filme, Patrícia voltou para Londrina com a filha e, depois de termos tentado contato com ela por telefone e redes sociais sem sucesso, parece que ela preferiu o anonimato novamente.

Críticas

Cinco meses podem parecer pouco para medir o resultado de um trabalho como esse. Porém, críticas vieram de todos os lados e, em sua maioria, muito positivas. Mas houve quem não apoiasse a ideia.

“Quando a Folha publicou uma matéria sobre o filme, muita gente passou a falar coisas ruins no link na página do jornal. Falavam que vida de prostituta podia virar filme, mas a vida de quem trabalha duro honestamente não valia de nada”, lembra Carlomagno. “O que me deixou surpreso foi que muitas dessas pessoas assistiram ao filme depois disso e voltaram no link para dizer que ficaram emocionadas, de certa forma pedindo desculpas pelo comentário”.

Além disso, Patrícia foi destaque em jornais locais, do Paraná e de circulação nacional. As críticas menos amigáveis, no entanto, vieram mais da área acadêmica que criticou pontos como a narrativa arrastada. “Patrícia tinha muito o que falar. Escolhemos o tom da narrativa como se quiséssemos ela conversar com o público. Quando você tem um amigo que precisa conversar, você não fica cortando ele, certo? Deixamos ela desabafar”, explica o diretor.

A luta agora é pela exibição nacional do filme. A equipe está envolvida em levar o longa a mais cidades e em captar apoio para isso.

O próximo

A experiência foi tão boa que Alexandre e Milena, junto com a Kauzare Produtora, já estão finalizando um segundo longa-metragem. Dessa vez o papo é mais leve. Batizado de “Entre umas e outras”, o filme vai contar os causos e a vida que acontece nos botecos e já está em fase de pós-produção.

Segundo Carlomagno, a coerência não vai dar lugar ao óbvio. No lugar de uma trilha sonora com samba e pagode, esperada para um trabalho sobre bares e baixa gastronomia, a negociação poderá trazer a banda Matanza para movimentar a sonoridade do longa.

SERVIÇO

Exibição de “Patrícia” e bate-papo com o diretor Alexandre Carlomagno
24/06 (terça), às 19h
No Sesc Ribeirão (Galpão)
Rua Tibiriçá, 50 – Centro
Entrada gratuita (retirar ingresso com 1h de antecedência)

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